Seca histórica ameaça ecossistemas amazônicos e coloca vida aquática em risco
A paisagem dos arredores de Manaus, capital do Amazonas, está se transformando em um cenário preocupante. O fim de setembro e o início de outubro têm sido marcados pela falta de água e pela presença de lama e barro onde antes havia rios abundantes. A seca afeta especialmente o encontro dos rios Negro e Solimões-Amazonas, onde turistas costumavam se maravilhar com a imensidão de um verdadeiro mar. Agora, o que se vê são bancos de areia e cadáveres em decomposição de peixes, jacarés, botos e tracajás.
No dia 10 de outubro, uma equipe do Laboratório de Ecofisiologia Molecular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LEEM-Inpa) visitou o município de Careiro Castanho, a cerca de 80 km de Manaus, para avaliar a situação da seca. Lagos menores já estão completamente secos, causando impactos significativos para as comunidades ribeirinhas, que dependem dos rios para o transporte. A falta de água já afeta até mesmo o acesso à educação, pois as crianças não conseguem mais ir à escola.
As medições realizadas pelo LEEM-Inpa revelaram que a água atingiu temperaturas superiores a 38 °C, muito acima da média de 28-30 °C. Além disso, os níveis de oxigênio estavam extremamente baixos, chegando a apenas 0,5 mg de O2 por litro, o que representa um perigo para os peixes.
Essa situação representa um risco sem precedentes para os ecossistemas aquáticos da Amazônia, podendo levar à redução e até mesmo à extinção de várias espécies. A exposição constante a altas temperaturas pode ser letal para animais que estão no limite de sua capacidade de adaptação ao calor.
Segundo dados do porto de Manaus, ao longo do mês de setembro, o rio Negro secou mais de 20 cm por dia. Em outubro, a vazão diminuiu para 13 cm, mas a seca persiste e já é considerada a segunda maior da história. Na última segunda-feira (16), o rio atingiu seu nível mais baixo já registrado, chegando a apenas 13,59 metros.
A situação é tão crítica que o rio já chegou ao nível esperado apenas para o auge da estação seca, que geralmente vai até novembro, indicando que um recorde pode ser quebrado nas próximas semanas. É inegável: o Amazonas está vivendo um fenômeno climático extremo.
Essa seca histórica ameaça a vida aquática e os ecossistemas da região amazônica. Com cerca de 1700 rios e milhares de igarapés, essas águas são essenciais para a sobrevivência de uma variedade impressionante de peixes de água doce, além de outros animais, como insetos, sapos, botos, peixes-boi, ariranhas, jacarés, cobras e tartarugas. A situação exige medidas urgentes para proteger esses ecossistemas e garantir a sobrevivência de suas espécies únicas.